terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón

A Sombra do VentoCarlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de Letras
Ano de lançamento: ESP: 2001 – BRA: 2007
Título original: La Sombra del Viento
Número de páginas: 400

Para ser sincero, eu não esperava outra coisa. Metade de mim já virara fã de Zafón ainda em Marina, a outra metade, é claro, foi arrebatada por A Sombra do Vento, que ouso dizer que é um dos melhores e mais bem escritos romances do mundo. O enredo, os personagens, as cenas, os diálogos... não importa quantas vezes eu diga – ou escreva, neste caso – que tudo no livro é maravilhoso, até você sentar-se com ele em mãos, cheirá-lo, apreciar a capa e se envolver com a história antes mesmo da primeira página lida, você não saberá realmente do que estou falando. A linguagem é, sim, um pouco robusta, e até encontrei palavras que sequer deram as caras no dicionário – sim, isso realmente aconteceu. Nesses momentos, a internet foi a solução →→ –, mas o que é uma meia dúzia de palavras desconhecidas quando viajamos quase um século no passado e nos encontramos entre os últimos resquícios do Modernismo? O século XX é o século das duas Guerras Mundiais, da invenção da TV, da descoberta da estrutura do DNA com sua famosa “dupla hélice” e o século em que vive Daniel Sempere e mais alguns outros personagens escondidos nas 400 páginas da obra.
Ainda é madrugada quando seu pai o leva para visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos, logo após ele acordar e se dar conta de que não se lembra mais do rosto da sua mãe, morta já há alguns anos. É a noite de aniversário de 11 de Daniel, e esse é o presente que ele recebe do destino. Uma lembrança apagada, roubada de sua mente por um ladrão sem rosto e sem forma. Aquele dia podia ter sido péssimo, no entanto, visitar o “cemitério” acaba se revelando mais do que ele esperava; no fim, talvez esse seja seu real presente. Afinal, coisas ruins não podem ser dadas de presente, podem?
O Cemitério dos Livros Esquecidos é onde estão escondidos os romances abandonados pela humanidade; esquecidos pelo restante do mundo, sim, mas ali, naquela enorme biblioteca que mais lembra o labirinto do Minotauro, eles são mais que simples páginas datilografadas deixadas ao acaso. Milhões de livros preenchem as paredes e, apesar disso, Sempere dá de cara com a Sombra do Vento, de Julián Carax. Fascinado pelo livro, ele inicia uma busca por mais obras do autor, até descobrir uma verdade estarrecedora que mudará para sempre sua vida: o seu exemplar de A Sombra do Vento é o último existente, e tudo porque alguém vem destruindo todos os livros escritos pelo autor. Ainda é um mistério a identidade do sujeito, que sempre destrói as obras com fogo e que não tem piedade alguma: quer eliminar todas as lembranças de Julián, para que logo ele seja completamente varrido do planeta. O escritor continua vivo enquanto seus livros existirem e alguém lembrar de seu nome, mas espera-se que isso não dure muito mais. Dessa forma, uma história repleta de crimes, segredos, amor, sexo e traição se revela aos poucos, de forma sucinta, à medida que as páginas vão sendo viradas e os anos se passam. Investigações sobre o passado se tornam quase uma obsessão para Daniel e seu improvável amigo, que esperam desvendar o mistério que ronda os romances do autor. Através de detalhes guardados na lembrança daqueles que conheceram ou já ouviram falar de Julián, eles reconstroem sua história, já à beira de ser esquecida.
Esse é o enredo principal da obra, que se ramifica em várias outras histórias tão complicadas e verdadeiras quanto. Ele depende muito das histórias coadjuvantes, o que acaba dando um destaque maior para esses personagens e não os deixando esquecidos e sem vida. Os mistérios se tornam mais complicados a cada capítulo e a história é extensa e detalhada. Um romance bastante adulto, ideal para quem quer fugir um pouco do universo Young-Adult.
A Sombra do Vento detém de uma riqueza de detalhes que há muito já não encontrava em uma obra, transportando o leitor para todos os anos em que a história se passa. As descrições instantaneamente geram imagens em nossa mente e os diálogos são inteligentíssimos, com personagens cativantes e bem-humorados. A obra é um pouco de tudo o que há de melhor e pior, um misto de amor e ódio que já surpreendeu mais de 10 milhões de pessoas e está apenas a espera de surpreender mais algumas. Perca-se na Barcelona do século passado e descubra todos os segredos de Daniel e Julián. Leia Zafón e aprecie cada página, cada parágrafo escrito, pois chegará a hora em que os personagens se despedirão e a história acabará. Quando isso acontecer, ponha a mão no livro e agradeça por ter sido agraciado com tamanha perfeição. Alguns dias dentro de A Sombra do Vento são como sua primeira queda de paraquedas (isso é, se você tiver coragem de pular) – inesquecível.


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