Editora: Suma de Letras
Ano de lançamento: ESP: 2001 – BRA: 2007
Título
original: La Sombra del Viento
Número de páginas: 400
Para ser
sincero, eu não esperava outra coisa. Metade de mim já virara fã de Zafón ainda
em Marina, a outra metade, é claro,
foi arrebatada por A Sombra do Vento,
que ouso dizer que é um dos melhores e mais bem escritos romances do mundo. O
enredo, os personagens, as cenas, os diálogos... não importa quantas vezes eu
diga – ou escreva, neste caso – que tudo no livro é maravilhoso, até você
sentar-se com ele em mãos, cheirá-lo, apreciar a capa e se envolver com a
história antes mesmo da primeira página lida, você não saberá realmente do que
estou falando. A linguagem é, sim, um pouco robusta, e até encontrei palavras
que sequer deram as caras no dicionário – sim, isso realmente aconteceu. Nesses
momentos, a internet foi a solução →→
–, mas o que é uma meia dúzia de palavras desconhecidas quando viajamos quase
um século no passado e nos encontramos entre os últimos resquícios do
Modernismo? O século XX é o século das duas Guerras Mundiais, da invenção da TV,
da descoberta da estrutura do DNA com sua famosa “dupla hélice” e o século em
que vive Daniel Sempere e mais alguns outros personagens escondidos nas 400
páginas da obra.
Ainda é
madrugada quando seu pai o leva para visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos,
logo após ele acordar e se dar conta de que não se lembra mais do rosto da sua
mãe, morta já há alguns anos. É a noite de aniversário de 11 de Daniel, e esse
é o presente que ele recebe do destino. Uma lembrança apagada, roubada de sua
mente por um ladrão sem rosto e sem forma. Aquele dia podia ter sido péssimo,
no entanto, visitar o “cemitério” acaba se revelando mais do que ele esperava;
no fim, talvez esse seja seu real presente. Afinal, coisas ruins não podem ser
dadas de presente, podem?
O Cemitério dos
Livros Esquecidos é onde estão escondidos os romances abandonados pela
humanidade; esquecidos pelo restante do mundo, sim, mas ali, naquela enorme
biblioteca que mais lembra o labirinto do Minotauro, eles são mais que simples
páginas datilografadas deixadas ao acaso. Milhões de livros preenchem as
paredes e, apesar disso, Sempere dá de cara com a Sombra do Vento, de Julián
Carax. Fascinado pelo livro, ele inicia uma busca por mais obras do autor, até
descobrir uma verdade estarrecedora que mudará para sempre sua vida: o seu exemplar
de A Sombra do Vento é o último existente, e tudo porque alguém vem destruindo
todos os livros escritos pelo autor. Ainda é um mistério a identidade do
sujeito, que sempre destrói as obras com fogo e que não tem piedade alguma:
quer eliminar todas as lembranças de Julián, para que logo ele seja
completamente varrido do planeta. O escritor continua vivo enquanto seus livros
existirem e alguém lembrar de seu nome, mas espera-se que isso não dure muito
mais. Dessa forma, uma história repleta de crimes, segredos, amor, sexo e
traição se revela aos poucos, de forma sucinta, à medida que as páginas vão
sendo viradas e os anos se passam. Investigações sobre o passado se tornam
quase uma obsessão para Daniel e seu improvável amigo, que esperam desvendar o
mistério que ronda os romances do autor. Através de detalhes guardados na
lembrança daqueles que conheceram ou já ouviram falar de Julián, eles
reconstroem sua história, já à beira de ser esquecida.
Esse é o enredo
principal da obra, que se ramifica em várias outras histórias tão complicadas e
verdadeiras quanto. Ele depende muito das histórias coadjuvantes, o que acaba
dando um destaque maior para esses personagens e não os deixando esquecidos e
sem vida. Os mistérios se tornam mais complicados a cada capítulo e a história
é extensa e detalhada. Um romance bastante adulto, ideal para quem quer fugir
um pouco do universo Young-Adult.
A Sombra do Vento
detém de uma riqueza de detalhes que há muito já não encontrava em uma obra,
transportando o leitor para todos os anos em que a história se passa. As descrições
instantaneamente geram imagens em nossa mente e os diálogos são inteligentíssimos,
com personagens cativantes e bem-humorados. A obra é um pouco de tudo o que há
de melhor e pior, um misto de amor e ódio que já surpreendeu mais de 10 milhões
de pessoas e está apenas a espera de surpreender mais algumas. Perca-se na
Barcelona do século passado e descubra todos os segredos de Daniel e Julián.
Leia Zafón e aprecie cada página, cada parágrafo escrito, pois chegará a hora
em que os personagens se despedirão e a história acabará. Quando isso
acontecer, ponha a mão no livro e agradeça por ter sido agraciado com tamanha
perfeição. Alguns dias dentro de A
Sombra do Vento são como sua primeira queda de paraquedas (isso é, se você
tiver coragem de pular) – inesquecível.
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