quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Garota da Capa Vermelha, de Sarah Blakley-C.


A Garota da Capa VermelhaSarah Blakley-Cartwright
Editora: iD
Ano de lançamento: EUA e BRA: 2011
Título original: Red Riding Hood
Número de páginas: 350

Esqueça a inocência dos contos de fadas, os campos repletos de margaridas, arco-íris multicoloridos e unicórnios que falam. Nessa repaginação de Chapeuzinho Vermelho, tudo isso dá lugar a carnificina causada por uma fera e ao ar sombrio e agradavelmente gótico do livro. A parte do “e viveram felizes para sempre” talvez não seja mais tão certa quanto costumava ser. E o Lobo Mau, o grande vilão, pode ser qualquer um. Todos são suspeitos na aldeia medieval de Daggorhorn. Até mesmo aquele personagem inocente. Ou alguém próximo, tão próximo que seria ousadia desconfiar de tal. Todos podem ser o Lobo.
E todos podem ser vítimas dele, também.
O vilarejo de Daggorhorn é há séculos assombrado pela Maldição do Lobo. Em cada Lua Cheia, a criatura corre livremente pelo lugar, aterrorizando a tudo e a todos. O melhor gado é sempre oferecido à fera, deixado sozinho nos campos de trigo. Afinal, antes um animal que um ser-humano. Mas quão superior é a raça humana quando comparada por olhos terrivelmente amarelos e sombrios? Qualquer um pode ser comida de Lobo Mau. No fim das contas, não há distinção entre as raças. Nem em relação ao Lobo. Todos são do Lobo e o Lobo é de todos. Qualquer um pode ser atraído à floresta e nunca mais sair de lá.
Bem, não vivo, pelo menos.
Essa é a única vida que os moradores do velho vilarejo conhecem, e parece ser a única a que estão dispostos a viver. Apesar de que há décadas o Lobo não faz nenhuma vítima, isso não quer dizer que você não possa ser a próxima. E esse é o destino de Lucie, irmã mais velha de Valerie. No que deveria ser apenas um acampamento inocente – isso depende apenas dos olhos de quem lê –, ela acaba sendo morta pela lendária criatura, estraçalhada por garras que não lhe deram sequer chance de fugir e se defender. Sangue humano agora suja os campos de trigo. Sangue humano; quando na verdade deveria ser sangue animal. Por que o Lobo quebrou a trégua de gerações? Por que agora resolveu voltar a atacar humanos?
Desolada pela morte da irmã, Valerie sabe que pode contar com Peter, sua paixão de infância. Ele foi expulso da cidade quando os dois ainda eram pequenos, mas agora está de volta e disposto a compensar o tempo perdido. Mas nem tudo são flores, claro: como se a morte da irmã já não fosse sofrimento o bastante, Valerie ainda tem de aturar o sofrimento de ser presa a um noivado contra sua vontade. Um ferreiro rico está disposto a casar-se com ela; um ferreiro que é a única salvação da família pobre de Valerie, que pode ser a única chance de um futuro melhor para si mesma.
Enquanto se acorrenta cada vez mais a dois amores tão diferentes, Valerie acompanha de perto a caçada dos moradores do vilarejo ao Lobo. A ira das pessoas é cada vez maior, e o medo que sentiam da criatura se transforma subitamente em ódio; rancor e raiva guardados há muito mas que o medo insistia em camuflar. Para ajudar os aldeões nessa caçada – e para mudar os padrões de vida dos moradores do lugar –, Padre Salomon chega à cidade com uma história de vida trágica, porém brava e convincente.
O Caçador torna-se então a última esperança contra o Lobo, ao mesmo tempo em que novas revelações sobre a verdadeira identidade da criatura e segredos a respeito dos moradores são revelados. O circulo se fecha cada vez mais, e cada vez mais Valerie se vê perdida, trancada no centro dele. Poderia ser Peter o Lobo? Afinal, tudo começou com sua chegada... Ou Henry, o seu noivo? Os seus olhos sempre pareceram cobiçá-la, olhos grandes e penetrantes... olhos de lobo. O comportamento suspeito de todos levanta as defesas de Valerie, e logo ela se dá conta de que não pode confiar em ninguém além de si própria. Afinal, confiar na pessoa errada pode custar-lhe não apenas sua liberdade, como também sua vida.
Agora, tudo o que resta é fugir do lobo. Antes que seja tarde demais.
À sua maneira, A Garota da Capa Vermelha faz jus à reputação de séculos adquirida pela garotinha que cruza uma floresta sozinha, em busca da casa da vovó. Tão atraente e esperançoso quanto o conto original, com uma protagonista que se assemelha não apenas pela cor de sua capa, mas também pela sua bravura, coragem, e que consegue manter um coração puro mesmo vivendo em meio à podridão.


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