A Garota da Capa Vermelha – Sarah Blakley-Cartwright
Editora: iD
Ano de lançamento: EUA e BRA: 2011
Título original: Red Riding Hood
Número de páginas: 350
Esqueça a inocência
dos contos de fadas, os campos repletos de margaridas, arco-íris multicoloridos
e unicórnios que falam. Nessa repaginação de Chapeuzinho Vermelho, tudo isso dá lugar a carnificina causada por
uma fera e ao ar sombrio e agradavelmente gótico do livro. A parte do “e
viveram felizes para sempre” talvez não seja mais tão certa quanto costumava
ser. E o Lobo Mau, o grande vilão, pode ser qualquer um. Todos são suspeitos na
aldeia medieval de Daggorhorn. Até mesmo aquele personagem inocente. Ou alguém
próximo, tão próximo que seria ousadia desconfiar de tal. Todos podem ser o
Lobo.
E
todos podem ser vítimas dele, também.
O vilarejo de
Daggorhorn é há séculos assombrado pela Maldição do Lobo. Em cada Lua Cheia, a
criatura corre livremente pelo lugar, aterrorizando a tudo e a todos. O melhor
gado é sempre oferecido à fera, deixado sozinho nos campos de trigo. Afinal,
antes um animal que um ser-humano. Mas quão superior é a raça humana quando
comparada por olhos terrivelmente amarelos e sombrios? Qualquer um pode ser
comida de Lobo Mau. No fim das contas, não há distinção entre as raças. Nem em
relação ao Lobo. Todos são do Lobo e o Lobo é de todos. Qualquer um pode ser
atraído à floresta e nunca mais sair de lá.
Bem, não vivo,
pelo menos.
Essa é a única
vida que os moradores do velho vilarejo conhecem, e parece ser a única a que
estão dispostos a viver. Apesar de que há décadas o Lobo não faz nenhuma
vítima, isso não quer dizer que você não possa ser a próxima. E esse é o
destino de Lucie, irmã mais velha de Valerie. No que deveria ser apenas um
acampamento inocente – isso depende apenas dos olhos de quem lê –, ela acaba
sendo morta pela lendária criatura, estraçalhada por garras que não lhe deram
sequer chance de fugir e se defender. Sangue humano agora suja os campos de
trigo. Sangue humano; quando na verdade deveria ser sangue animal. Por que o
Lobo quebrou a trégua de gerações? Por que agora resolveu voltar a atacar
humanos?
Desolada pela
morte da irmã, Valerie sabe que pode contar com Peter, sua paixão de infância.
Ele foi expulso da cidade quando os dois ainda eram pequenos, mas agora está de
volta e disposto a compensar o tempo perdido. Mas nem tudo são flores, claro:
como se a morte da irmã já não fosse sofrimento o bastante, Valerie ainda tem
de aturar o sofrimento de ser presa a um noivado contra sua vontade. Um
ferreiro rico está disposto a casar-se com ela; um ferreiro que é a única
salvação da família pobre de Valerie, que pode ser a única chance de um futuro
melhor para si mesma.
Enquanto se
acorrenta cada vez mais a dois amores tão diferentes, Valerie acompanha de
perto a caçada dos moradores do vilarejo ao Lobo. A ira das pessoas é cada vez
maior, e o medo que sentiam da criatura se transforma subitamente em ódio;
rancor e raiva guardados há muito mas que o medo insistia em camuflar. Para ajudar
os aldeões nessa caçada – e para mudar os padrões de vida dos moradores do
lugar –, Padre Salomon chega à cidade com uma história de vida trágica, porém
brava e convincente.
O Caçador
torna-se então a última esperança contra o Lobo, ao mesmo tempo em que novas
revelações sobre a verdadeira identidade da criatura e segredos a respeito dos
moradores são revelados. O circulo se fecha cada vez mais, e cada vez mais
Valerie se vê perdida, trancada no centro dele. Poderia ser Peter o Lobo?
Afinal, tudo começou com sua chegada... Ou Henry, o seu noivo? Os seus olhos
sempre pareceram cobiçá-la, olhos grandes e penetrantes... olhos de lobo. O
comportamento suspeito de todos levanta as defesas de Valerie, e logo ela se dá
conta de que não pode confiar em ninguém além de si própria. Afinal, confiar na
pessoa errada pode custar-lhe não apenas sua liberdade, como também sua vida.
Agora, tudo o
que resta é fugir do lobo. Antes que seja tarde demais.
À sua maneira, A Garota da Capa Vermelha faz jus à
reputação de séculos adquirida pela garotinha que cruza uma floresta sozinha,
em busca da casa da vovó. Tão atraente e esperançoso quanto o conto original,
com uma protagonista que se assemelha não apenas pela cor de sua capa, mas
também pela sua bravura, coragem, e que consegue manter um coração puro mesmo
vivendo em meio à podridão.
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